terça-feira, 31 de maio de 2011

O velho.

Um velho parou ao meu lado e disse:
- Levante a cabeça rapaz. Não fique triste... as estrelas brilharão esta noite.
É só mais um doido, pensei. Desses que ficam por aí dizendo coisas sem sentido. Levantei-me e já ia saindo quando o velho disse novamente:
- Não esqueça, as estrelas brilharão esta noite.
Não dei atenção e segui caminhando.
Era quase fim de tarde e percebi que o céu estava nublado e uma brisa fresca balançava as folhas das árvores. Conforme a noite caía as nuvens iam se dissipando despindo o céu da noite até ser possível contemplar sua completa nudez. Lembrei-me imediatamente do velho na praça e de suas palavras.
Saí para uma caminhada no dia seguinte, precisava espairecer.
Passei pela praça e vi caminhado em minha direção o tal velho. Tinha um sorriso gentil na face. Não retribuí o sorriso, não queria fazer contato, já estava ocupado demais com minha própria vida, lamentando minhas frustrações.
Baixei minha cabeça fitando o chão enquanto caminhava para evitar contato visual. Quando nossos caminhos se cruzaram apenas ouvi a voz do velho dizendo:
- Hoje à noite... as estrelas...não esqueça.
Passei sem dar atenção. Mais uma vez esse papo de estrelas. E como disse, minha cabeça já andava ocupada demais.
A tarde passou e seguiu-se uma noite fria e nublada. O velho havia errado dessa vez.
Por alguma razão, eu quis voltar à praça nessa noite.
Retornei. Não havia sinal do velho.
Apenas me sentei num banquinho e fiquei com meus pensamentos.
Sem que eu percebesse, alguém sentou ao meu lado. Era o velho.
Ele ficou lá sentado sem dizer uma palavra, olhando para o céu.
Ficamos assim, calados, durante vários minutos.
Depois de um tempo, resolvi dizer:
- Você errou dessa vez.
Sem retirar os olhos do céu ele me respondeu:
- Sobre o quê?
- As estrelas... não as vejo brilhar esta noite.
Então o velho olhou-me nos olhos e com aquele mesmo sorriso gentil de antes disse:
- Você não as vê agora, mas elas estão lá. E continuam brilhando. Dia após dia, noite após noite, não importa o que aconteça.
Com um brilho pacífico no olhar o velho se levantou e antes de ir disse, já de costas:
- Elas estão lá, brilhando... sempre. As nuvens que vê agora são passageiras.
Enquanto o via indo embora, pensava em suas palavras. Estava intrigado. O que ele havia acabado de me dizer?

2 comentários:

  1. Que bom esse tempo com os meus olhos descansando sobre o seu texto. "O que ele havia acabado de me dizer?" Sei o que você disse pra mim, olhar só para o chão por conta do peso da nossa cabeça nos impede de ver estrelas de alongar o corpo esperar o novo. É, mesmo que não estejam ao alcance dos meus olhos elas estarão sempre lá. Que essa certeza nos anime diante das problemas afim de o enfrentarmos com alegria confiantes que a solução chegará. Afinal tudo passa. Sigamos contemplando o céu e suas brilhantes estrelas. Saudades. Beijos. Chris

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  2. Inevitável não imaginar a sua expressão ao ouvir essa frase de um desconhecido. Tenho certeza de que sei qual seria.

    Eu fico fascinada com essas pessoas que passam pela nossa vida e nos puxam a pensar, a olhar de uma outra forma, ver além do óbvio com um olhar mais atento ...
    Não se atente para as nuvens que passam porque elas são passageiras mas as estrelas continuam lá a brilhar. Isso me lembra uma valiosa lição de vida... mesmo que haja momentos tristes a felicidade esta lá. Os momentos ruins passam como essas nuvens mesmo quando parece que não enchergamos essa saida claramente. Eles passam porque as coisas boas estão lá, e no final das contas sempre a encontramos. Isso faz com que trilhemos nosso caminho com mais fé.

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